15.2.10

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Estrutura Bipolar do Ser Humano



O objetivo essencial da existência humana , do ponto de vista psicológico, na visão Junguiana, é facultar ao indivíduo a aquisição da sua totalidade, o estado numinoso, que lhe faculta o perfeito equilíbrio dos polos opostos.

Jung havia estabelecido que o ser humano é possuidor de uma estrutura bipolar , agindo entre esses dois diferentes estados da sua constituição psicológica, qual ocorre com os arquétipos anima e animus.

Toda vez que lhe ocorre uma aspiração , o polo oposto insurge-se , levando –o ao outro lado da questão.

Qualquer comportamento de natureza unilateral logo desencadeia uma reação interna , inconsciente , em total oposição àquele interesse.

Quando o indivíduo se exalta em qualquer forma de personalismo está mascarando a outra natureza que também lhe é inerente.

Se se atribui virtudes relevantes , eles são defluentes de fantasias internas do que gostaria de ser, sem que o haja conseguido.

Um eu opõe-se ao outro eu em intérmina luta interior. Um é consciente , vigilante; o outro é inconsciente , adormecido, que desperta acionado pelo seu oposto. Um se encontra na razão ; o outro, no sentimento ou vice-versa. A não vigilãncia e não saudável administração desse opositor se apresenta como desvario , que impede o raciocínio lúdico, a presença da razão.

Esse ser duplo é constituido, ora como resultado do conhecimento adquirido, de ex periência vivenciada, enquanto o outro é de total desconhecimento , permanecendo oculto sempre à espreita.

O nobre Jung utiliza-se de imagem carregada de lógica moderna , quando esclarece: - o ser humano vive como alguém cuja mão não sabe o que a outra faz , o que induz à recordação do pensamento de Jesus, quando se refere à excelsa ação da caridade: dai com a mâo direita , sem que a esquerda o saiba.

Conhecia Jesus as duas polaridades psicológicas do ser humano e , por isso, incitava-o a amar tão profundamente que o seu gesto de afeição sublime e consciente estivesse em plena concordância com os seus arquivos inconscientes.

Stevenson, o inspirado poeta inglês , bem traduziu esses dois polos na sua obra genial “o médico e o monstro” , quando o Dr. Jekil era vítima do Sr. Hide que coabitava com ele no seu mundo interior , expressando toda a inferioridade que o médico buscava superar no seu ministério sacerdotal.

Na tradição religiosa , expressam-se como o bem e o mal, ou o anjo e o demônio , continuando na feição sociológica em conceituação do certo e do errado, da treva e da luz. do belo e do feio.

Essa dicotomia psicológica permanece no ser humano em desenvolvimento emocional e espiritual.

O esforço terapêutico a desenvolver , deve ser todo voltado para a integração do outro polo, o oposto , naquele que está consciente e é relevante produtivo, saudável, caminho seguro para a completude.

O esforço consciente do indivíduo para autopenetrar-se, autoconhecer-se , como resultado das tensões dos polos ativados pelo interesse da integração , induz o indivíduo a um comportamento gentil, afável , compreensível das dificuldades e limitações do seu próximo.

Enquanto , porém, permanece essa dissociação , essa fragmentação, esse desconhecimento da consciência , invariavelmente se tomba na cisão da personalidade, da qual inrompem os transtornos neuróticos que atormentam , aumentando a distância entre os atos conscientes e inconscientes.

Jung sugere os símbolos como representação dos conflitos que se estabelecem nas oposições dos mesmos, encarregados de os unir e formar uma realidade , como se observa na cruz , cujos braços tem o seu ponto de segurança no centro em que se encontra a haste vertical com a horizontal, representando a segurança , a unidade daqueles contrários...

Nesse sentido , o emérito mestre suíço recorre ao comportamento do cristão na sua rendição à Divindade, sem esfacelar-se nela , mas tornando-se um eleito, capaz de conduzir o próprio fardo a própria cruz.

Pessoas inexperientes quando se dão conta dos opostos no seu mundo interior , afligem-se desnecessariamente , formulando conceitos indevidos e punitivos , como se as manifestações do inconsciente signifiquem inferioridade , promiscuidade , dando origem a culpas injustificáveis pelo fato de existirem.

Supõem, precipitadamente, que podem forçar a mudança , tornando-se puras , embora os conflitos , culminando em descobrimentos dolorosos de existências vazias.

Esse s conflitos não devem ser combatidos como inimigos num campo de batalha , mas atendidos, orientados, esclarecidos, libertando-se deles pela sua conscientização, de forma que a autoconsciência experimente bem-estar pela conquista realizada interiormente.

É comum a ocorrência de pensamentos infelizes no momento da oração , da meditação, o que não é habitual noutras ocasiões gerando inquietação e mal-estar.

Ocorre que, estando arquivados no inconsciente , quando esse é ativado pelo polo edificante, logo o outro descerra a sua cortina e libera o adversário.

A atitude a tomar com tranquilidade consiste em permanecer não reativo, insistindo no propósito ora em vivência até a unificação dos oponentes.

A fragmentação leva ao desfalecimento,à perda do entusiasmo.

Um eu em luta contra o outro eu deteriora o sentimento ou aturde a razão.


Joanna de Ângelis/Divaldo Franco